A CIDADE SOU EU
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
e centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

(Paulo Leminski)
​​​​​​​


A cidade é o palco onde a fugacidade do instante transforma-se em beleza aos olhos do flâneur, mas o que ele vê?
Não só os prédios, as ruas ou mesmo as multidões, mas também o próprio reflexo que se funde com a cidade. Vê as ruas como um baile de máscaras: cada qual a representar um papel e a copiar o do outro.  Vê a cidade como uma imensa vitrine onde os mais diversos papéis são dispostos de modo a serem alternados. E em meio a este caos sagrado, vê comprometida sua alteridade, e, por conseguinte, confere a fusão do sujeito com o objeto: “transforma-se o amador na coisa amada” (Camões).
A cidade é para o flâneur o reflexo perfeito de si mesmo.
O flâneur está morto, a cidade vive.
Back to Top